23/09/07

Camiões repolhudos ?...

Poderosa e abençoada várzea esta. Desde que me conheço que oiço dizer que a várzea de Loures é de uma riqueza e capacidade agrícola incomparáveis. Durante décadas foi a mais importante fonte de abastecimento de hortícolas dos mercados de Lisboa e arredores.

Chegados a Loures os tempos da massificação cimentífica eis que a várzea vai mostrando igualmente toda a sua capacidade, não já de produzir couves, cenouras, rabanetes e aparentados, mas de acolher e fazer brotar aterros ilegais, anulação de linhas de água (até às próximas cheias, cuidado! Depois queixem-se!...), urbanizações brutais e outras excrescências destes anos de cimento.

Extraordinária é agora a visão , a partir da Casa do Adro ou da Igreja Matriz de Loures, deste novo produto da terra fértil da várzea: um parque de camiões.

Não se sabe se isto é resultado da aposta municipal no desenvolvimento da logística selvagem, uma espécie muito em voga em países e regiões atrasadas que têm a ilusão que assim chegam e mais depressa a um dito "desenvolvimento". Coisa que ninguém viu, nem sabe o que é.

Mas a maior dúvida vem mesmo das ciências agronómicas: irá a Várzea de Loures passar a gerar camiões repolhudos ?

16/09/07

Medieval. E porque não ?

Todos sabemos que os portugueses, com frequência, oscilam de humor: entre o profundamente deprimido e o esfusiantemente sarcástico. Neste momento, os idiotas (i.é. pessoas que têm ideias) que projectaram uma Feira Medieval em Sacavém estão a ser alvo de um arrasador anedotário. A Câmara de Loures a cobrir-se de ridículo e o Presidente da Junta a encharcar a Cidade de "editais" à boa maneira medieval.

Será justo? Eles têm-se esforçado. Têm tentado de tudo para dinamizar o Turismo em Sacavém. Desde o "Fiasco Juvenil":



A uma panóplia de artistas de gabarito:

"O grupo musical Fernando Alves Trio abriu o programa animando o público presente. Muitos foram os que saltaram da cadeira para darem o seu pezinho de dança.
Já a noite ia longa, quando subiu ao palco uma artista bem conhecida do público, Ágata, que cantou alguns dos temas mais famosos contando com o acompanhamento de pequenos e graúdos. (...) Fernando Marcos, (...) Carlos Teixeira, (...), Pedro Farmhouse, (...) António Pereira." (in Boletim Municipal nº 25)

Tudo tem sido estratégicamente estudado para dar elevada expressão turística a Sacavém, Moscavide, Bobadela e Prior-Velho, terras com elevado potencial para o efeito.
Porque não tentar agora a Feira Medieval ? Julgo que está fadada ao sucesso. Veja-se bem se Sacavém não encontrou finalmente uma vocação (de Cidade medieval) desde que está a ser gerida por quem está:

1. Só crescem muralhas. Nada mais evoluí. Característica estrutural da Idade Média;

2. Cercada de paredões, ameias, panos de muralha e linhas de água, tem ou não as características próprias das cidades (castelos) medievais?

3. A Cidade está suja, feia e mal-cheirosa. São ou não sintomas clássicos das urbes medievais?

Concordo que não pode deixar-se de sorrir com o espanto daqueles que perguntam: então vieram fazer a 1ª feira medieval em 2007 ?!... Foi atraso dos comboios ou quê?

Mas bem sabemos que promover o turismo é uma arte. E as artes profundas precisam de tempo para desabrochar. Provavelmente, ninguém tinha percebido que fazer Sacavém andar para trás décadas em tão pouco tempo era uma estratégia assumida para lhe dar um cunho medieval que só os turistas e os seus sensíveis narizes são capazes de reconhecer. Ora, estes políticos estão a fazer arte. Turística, mas também, histórica e sociológica.

Sacavém, é hoje um verdadeiro atelier de artistas que desfazem, achincalham e espezinham a história, as tradições, as vivências e até os edifícios notáveis. Ao mesmo tempo e à boa maneira americana, tentam construir uma nova história, dar novas referências e dessocializar a comunidade das suas principais referências. E para que conste, estão a ter sucesso!

Porque não fazem a Feira Medieval na Rua dos Mastros ? Era, o mais adequado. Mas quem é que sabe onde é a Rua dos Mastros em Sacavém ?

E porque não uma Feira Medieval ? Note-se que é uma iniciativa praticamente inovadora. Assim, por alto, só se conhecem as poucas Feiras Medievais de:

Alfândega da Fé
Aljubarrota (Alcobaça)
Alvalade (Santiago do Cacém)
Arcos de Valdevez
Belmonte
Belver
Bragança
Caminha
Canas de Senhorim
Castelo da Foz (Porto)
Castro Marim
Cinfães
Coimbra
Guarda
Lamego
Lindoso
Macedo de Cavaleiros
Montalegre
Montemor-o-Novo
Óbidos
Palhaça (Oliveira do Bairro)
Penamacor
Penedono
Penela
Porto de Mós
Sabrosa
Santa Maria da Feira
Seixal
Silves
Trancoso
Virtudes (Azambuja)
Como se vê, tudo locais com castelos e urbes de inferior qualidade turística em relação a Sacavém. Reafirmo, esta Feira Medieval está fadada para o sucesso turístico.

Pelo que se percebe, os hotéis de Lisboa e arredores, estão já concentrados no aluguer de viaturas - e diz-se mesmo que de comboios especiais, mas disto não há ainda certeza - para transportar todos os seus hóspedes para a Feira Medieval de Sacavém.

Os hóspedes mais entusiamados com a iniciativa, dizem-nos, são os do Hotel de Sacavém. Pois, esse, o que já foi anunciado 73 vezes no Boletim Municipal!

Ora, com tantos atractivos turísticos, tantos hotéis, uma Cidade lindíssima e limpíssima, um rio transparente e um castelo altaneiro, pergunta-se:

Para quê o sarcasmo e as piadolas?

Porque não, uma Feira Medieval ?

09/09/07

Temos de engolir a hóstia ?

Mário Soares, incontornável referência do PS, acaba de ser nomeado pelo Governo PS, Presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Ironicamente, ao mesmo tempo, a Câmara Municipal de Loures, sob gestão do PS e/ou a Valorsul tutelada pelo Governo PS, desrespeitaram ostensivamente a Lei da Liberdade Religiosa.

Na inauguração do Ecoparque de São João da Talha - equipamento "oferecido" pela Valorsul à Freguesia de São João da Talha em compensação pela construção da Central Incineradora nesta zona - no passado sábado, dia 8, a Igreja Católica Apostólica Romana teve o privilégio de um seu representante não apenas discursar em primeiro lugar, como de proceder à "bênção" do novo parque, segundo os rituais daquela confissão.

E tudo isto, muito formal, muito oficial e de certeza, a convite da Câmara de Loures ou da Valorsul ou de ambas as entidades.

O certo é que com esta atitude, tratando-se de um equipamento público, de uma cerimónia pública, pagos pelos dinheiros públicos configura grave infracção da Lei n.º 16/2001, de 22 de Junho (Lei da Liberdade Religiosa), cujo Artigo 4.º, Princípio da não confessionalidade do Estado, determina que:

"1 - O Estado não adopta qualquer religião nem se pronuncia sobre questões religiosas.
2 - Nos actos oficiais e no protocolo de Estado será respeitado o princípio da não confessionalidade.
3 - O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes religiosas."
4 - O ensino público não será confessional.
"

Foi violado o princípio de nos actos oficiais e no protocolo de Estado será respeitado o princípio da não confessionalidade. Os cidadãos têm o direito de não ser confrontados e "obrigados" a conviver e participar em cerimónias inesperadas de confissões que não professam?

A Câmara de Loures e/ou a Valorsul violaram a lei ? Alguém vai assumir responsabilidades ? O Dr. Mário Soares vai pronunciar-se ? Ou independentemente da nossa vontade – cada vez que participarmos num acto oficial da Câmara de Loures - teremos de engolir uma hóstia, mesmo sem ter tomado o pequeno almoço ?