02/07/11

As privatizações são um erro ?

As privatizações são um erro. É o que dizem alguns comentadores e economistas que comentam a situação do país e analisam o programa do Governo.

Argumentam que privatizar, neste momento, é vender a preço de saldo. É uma verdade insofismável, mas é uma verdade muito insuficiente, porque escamoteia muitas outras verdades por detrás desta.


Primeira verdade escondida: o Governo pretende privatizar as empresas públicas ou com participação do Estado que são lucrativas. O governo não quer privatizar as empresas que dão prejuízo;


Segunda verdade escondida: o Governo, como no caso da CP, procura igualmente as partes lucrativas das empresas para privatizar, mas as partes deficitárias não procura e não quer privatizar. Ou seja, neste caso, da CP, vai privatizar a CP Cargo que é lucrativa, mas a CP "passageiros", que é deficitária, não privatiza;


Terceira verdade escondida: ao proceder assim, o Governo, procura passar rapidamente para as mãos dos privados tudo o que no Estado gera lucro e podia ajudar a equilibrar as contas públicas e ajudar ao financiamento dos serviços públicos. Do nosso lado, do lado dos contribuintes, ficará tudo e apenas o que é deficitário e que será suportado com os impostos de quem trabalha;


Quarta verdade escondida: os portugueses vão ser espoliados de um conjunto de bens que edificaram e pagaram durante anos e que, com este caminho, serão entregues por tuta e meia, sem rendimento, sem honra e sem glória;


Quinta verdade escondida: ao arrepio dos apelos - ainda que hipócritas - do Presidente da República para se consumir português e valorizar o que é nacional, é quase certo que uma parte substancial deste património que os portugueses erigiram, vá parar a mãos estrangeiras. Ou seja, a riqueza gerada em Portugal, por essas empresas que vão ser privatizadas, não vai contribuir para nos livrarmos da crise, vai servir para acentuar os nossos deficites e as nossas dificuldades;


Sexta verdade escondida: mesmo no caso em que alguns portugueses fiquem com aquelas empresas, os seus lucros passarão a ser disfarçados e a ser dirigidos para off-shores, eximindo-se ao pagamento de impostos e o Estado não estará lá para vigiar, verificar e controlar;


Sétima verdade escondida: no futuro, sem outras fontes de rendimento, só os impostos sobre os trabalhadores e os consumidores financiarão o Estado e as suas necessidades;


Oitava verdade escondida: o Estado e as suas necessidades são em grande medida, os polícias que exigimos para a nossa segurança e dos nossos filhos, os médicos que esperamos encontrar nos hospitais e centros de saúde, os enfermeiros que precisamos para nos prestar assistência e aos nossos mais velhos, os professores que queremos competentes e dedicados nas nossas escolas, os juizes e profissionais da justiça que podem dar justiça à justiça. O Estado é tudo aquilo que não nos podemos esquecer e ignorar que é, mas que todos os dias nos dizem que é outra coisa, para nos embarrilarem na doce cantiga das privatizações, porque "há Estado a mais". Há Estado a mais mas não daquele que é preciso aos portugueses. Há Estado a mais, mas é naquele que o PS, o PSD e o CDS, o encheram de amigos e correligionários. E nesse, não está previsto mexerem;


Nona verdade escondida: dizem-nos que as privatizações têm de ser feitas porque "foram acordadas com a troika" estrangeira. Bom, mas a troika estrangeira e a troika portuguesa não perseguem os mesmos interesses ? Ambas as troikas não servem os mesmos patrões ? Qual era a dificuldade de se porem de acordo sobre isso ? Onde é que se estranha que uns tenham gritado "mata" e os outros acrescentem, "esfola" ?


As privatizações são um erro ?


Não são. As privatizações são o primeiro (e se calhar único) objectivo estratégico do Governo português e dos seus patrões, que são os mesmos patrões da troika estrangeira.


Um erro, é classificar este programa de afronta aos portugueses, como um erro. Os erros são desculpáveis.


As privatizações em Portugal não são um erro, são um crime deliberado, premeditado, doloso de lesa-cidadão. Os responsáveis por esta operação - se a consumarem - deveriam ser julgados por crime económico, traição e violação dos direitos humanos.