07/06/10

Cavacada turístico-económica ?


O Presidente da República apelou no sábado, em Albufeira, aos portugueses para que passem férias no seu próprio país, acrescentando que "férias passadas no estrangeiro são importações e aumentam a dívida externa portuguesa" e que Portugal é "um dos países da Europa com divida externa maior".


"Sei muito bem daquilo que falo, porque conheço os números", disse.


Estas curiosíssimas declarações de Cavaco Silva, não o cidadão, mas o Presidente da República, merecem alguns comentários e umas tantas perguntas:


1. É interessante a perspectiva de dinamização interna da economia. Mas é confusão minha ou esta é uma visão nova de Cavaco Silva ? Enquanto primeiro-ministro não sonhava, anunciava e queria convencer-nos que lá fora é que era bom ? Que íamos todos ser ricos e passar a ir de férias para o Dubai ou para lá disso ?


2. É duplamente interessante, enigmática mesmo, quando concorda com o aumento do IVA, o que tornará os produtos turísticos em Portugal ainda mais caros;


3. De resto, qualquer português que possa ainda fazer férias fora de casa (ou que ainda tenha emprego, donde adquira o direito a ter férias), basta que passe numa qualquer agência de viagens e rapidamente verificará que lhe custa metade do valor ir para Canárias do que lhe ficaria ir para os Açores, que só pagará metade, se em vez de ir para Tavira for para Cabo Verde, que é muito mais barato ir para Marrocos ou para a Turquia do que para a Figueira da Foz, que lhe faz menos mossa no subsídio ir para Cuba ou Republica Dominicana do que para Albufeira;


4. Conhece os números Sr. Presidente ? Então também sabe do que estou a falar;


5. E para que não se pense que é uma atitude bota-abaixista, esta minha, convido Sua Excelência o Presidente da República a pronunciar-se sobre o “estado da arte” do nosso Turismo. Bom se mais não for, sobre o do seu Algarve natal;


6. Dos preços, dos serviços, dos hotéis, das vias de comunicação, dos transportes, do ordenamento do território, das faltas de água. Mas também das oportunidades e possibilidades que têm os portugueses… e os outros, lá pelo Reyno dos Al’gharbs;


7. Quero-nos então em casa ?!... Enfim, pelo menos perto de casa, para não afectar mais a economia. Para não aumentar a divida externa!


8. Que dirá o Sr. Presidente, quando se conhecer, via revistas cor-de-rosa, por onde anda e por onde andou o jet set responsável pela crise, que estamos nós a pagar?


9. Que recomendações tem o Sr. Presidente a fazer aos responsáveis políticos e, designadamente, aos membros do Governo e Banqueiros sobre férias ?


10. Seria de esperar que depois do estado a que levaram e deixaram levar o país, se lhes abrisse uma estância balnear/spa, estritamente dedicada, por exemplo, no Forte de Peniche que já mostrou – noutros tempos - ter condições para bem receber e o que é nacional, se não é bom, nem é barato, … é nacional!;

Sr. Presidente, as suas declarações são uma “cavacada” turístico-económica, não são ?!...

04/06/10

Efeito Boomerang ?


A Hungria pode entrar em bancarrota admitiu hoje um porta-voz do governo do país, citado pela agência de informação financeira Bloomberg, que afirmou que o governo anterior "manipulou" e "mentiu" sobre o estado da economia.” (Lusa)


Após a queda do Muro de Berlim, o mundo ia ser cor de rosa suave, belo, impoluto, desenvolvido, harmonioso, farto, numa palavra: magnífico. Diziam-no, repetidamente e por todas as formas possíveis, os arautos comunicacionais do sistema capitalista.


“A derrota dos regimes comunistas de leste” assegurava – clamaram os ditos – um futuro risonho para aqueles povos, “livres do jugo comunista”.


Um sem número de “comentadores” políticos e económicos, “especialistas” em geo-estratégia, “jornalistas” de primeira linha e os mais destacados “políticos” garantiam em todas as Rádios, TV’s e Cassetes Pirata, que o “mundo livre” mostrava a superioridade da “economia de mercado”, trave-mestra, para eles, da liberdade e do bem-estar.


Eis o que diz sobre o tema o informadíssimo Centro de Informação Jacques Delors:


Economia
A Hungria tem vindo a ser apontada como um exemplo de sucesso na transição de uma economia socialista para uma economia de mercado, sendo o sector privado já responsável por 80% do PIB. É de referir que 70% das exportações húngaras têm como destino os países da União Europeia. (…) Desde 1997 que a economia húngara tem crescido mais de 4% ao ano, sustentada por um forte sector exportador e pelo investimento estrangeiro
.” Fonte: http://www.aprendereuropa.pt/page.aspx?idCat=514&idMasterCat=300&idContent=354


Aí está o exemplo de sucesso na transição de uma economia socialista para uma economia de mercado: A HUNGRIA À BEIRA DA BANCARROTA.


É claro que agora não há poderosas agências noticiosas, nem ilustres comentadores que observem o fenómeno.


Estamos perante um efeito boomerang (económica, politica e ideologicamente), mas a esta hora, os "doutos pensadores" e os "esganiçados pregadores" estão a olhar as estrelas e a assobiar para o lado. Nem deram por nada!...