18/07/07

E por cá, como vai ser ?



O jornal El País, noticiava, na sua edição de 27 de Junho passado um relatório da Greenpeace em que esta organização denuncia que em 89 casos de corrupção urbanística, estão envolvidos mais de 354 cargos públicos, entre eles vários presidentes de câmaras muncipais.

O relatório, denominado "Destrucción a toda a costa", aborda o problema da completa invasão urbanística da costa espanhola, por empreendimentos turísticos que têm tanto de faraónicos como de ilegais e estão projectados mais de 300 campos de golfe. O levantamento feito pelos ecologistas denuncia ainda que detectou mais 99.500 moradias ilegais.

Concluí o Greenpeace que o ritmo de ocupação do solo por urbanizações tem crescido em Espanha ao ritmo de 3 campos de futebol por dia.

Por cá, espantosamente, quando os outros começam a reconhecer os erros cometidos, quando os processos em tribunal começam a resultar em acusações e condenação, quando se verificam os problemas decorrentes das opções feitas, pretendemos imitá-los.

Quem leia, mesmo que fugazmente, os chamados jornais ou cadernos "de economia" e de "negócios" da nossa praça ou oiça ou leia o Ministro da Economia (e outros, incluindo o Primeiro Ministro) nas suas entrevistas institucionais, só tem razões para ficar preocupado.

Os famosos PIN (projectos de Potencial Interesse Nacional) já andam por aí a viabilizar empreendimentos turísticos e muitos campos de golfe (na verdade a especular e a ocupar selváticamente o solo). O interesse nacional é só e apenas potencial, mas entretanto, podem construir e ganhar milhões.

Compram as propriedades agrícolas (supostamente não urbanizáveis) a baixo preço e um providencial PIN (cujo estatuto se obtém, não sei bem como), transforma terrenos de tostões em mais-valias de milhões. Mesmo que não haja qualquer interesse nacional, os promotores já realizaram os seus fabulosos lucros.

Se o milagre da multiplicação dos pães já me tinha impressionado, veja-se bem o efeito que não há-de provocar o milagre da multiplicação das fortunas. Sócrates também ficará na nossa história, a par de quantas santas milagreiras tivemos.

Certamente, alguns Presidentes de Câmara e outros detentores de "cargos públicos" o acompanharão. Aliás, não vejo como possa deixar de ser, quando vejo o que vejo na nossa costa e mesmo nas margens ribeirinhas dos nossos rios mais significativos, onde avulta, por todas as razões o Tejo.

Um dia, quando em Portugal o mal também estiver feito e na justiça se começarem a apurar responsabilidades, como vai ser ?

17/07/07

Cheira a bolor, não cheira ?



No tempo do "Estado Novo", expressão light para o período fascista em Portugal, era assim: sempre que o Presidente da Câmara tinha o incómodo de sair do gabinete e se deslocava a uma paróquia, era certo e sabido que era orquestrada uma festarola em sua honra e que a Banda Filarmónica da terra ou uma qualquer emprestada, lá ia abrinhantar a presença da ilustre figura. Era recebido à entrada da localidade e seguia envolto nas mais celestiais partituras que a composição filarmónica fosse capaz de executar.

No fundo, fazia-se de conta que era Deus na terra! E deviamos todos ficar gratos pela preferência e pelo incómodo a que se prestava sua Excelência. Não faltaria a seu lado (para reforçar as conexões divinas e benzer tudo o que Sua Excelência dissesse e fizesse) o Bispo da zona.

Foi assim no Concelho de Loures durante 48 longos anos. Estaremos de volta a tão bolorentos, obscurantistas e repressivos tempos ? Já não há cerimónia que não tenha representante divino, a benzer, a benzer, a benzer...

E agora, também já temos as Bandas Filarmónicas a abrinhantar as visitas do Presidente da Câmara, como é o caso de Bucelas, onde Sua Excelência já não se desloca sem música e desfile a condizer.

Associado à crescente arrogância e autoritarismo do Governo, esta espécie de caciquismo, orquestrado a partir de uma respeitável e centenária Colectividade, exala um estranho odor.

Cheira a bolor, não cheira?

13/07/07

Demagogia também anda de segway ?



A agência noticiosa Lusa, divulgou uma notícia que, mais coisa menos coisa, saiu assim em alguns jornais: "A Câmara de Loures testou veículos Segway enquanto possíveis “alternativas ecológicas” aos meios de transporte no município, revelou à Lusa João Galhardas, vereador do Ambiente. Os veículos Segway, compostos por duas rodas separadas por uma plataforma para o condutor e por um volante que, através da inclinação dada pelo corpo do próprio utilizador, viram e andam na direcção pretendida, gastam um euro de energia por cada 600 quilómetros percorridos e têm um custo de cerca de 5700 euros por unidade. O teste feito pelo vereador do Ambiente consistiu na realização do percurso entre o Departamento do Ambiente e o Palácio Marquês da Praia, onde se realizou uma reunião camarária, num total de 2,3 quilómetros percorridos em perto de sete minutos. João Galhardas escusou-se no entanto a revelar quem utilizaria estas viaturas em caso de investimento municipal."

Note-se bem o último período do parágrafo. O Senhor Vereador do Ambiente não sabe muito bem para quê ou para quem o segway pode servir na Cãmara Municipal. Portanto, ou achou graça ir para a reunião de Câmara num veículo modernaço e pronto, fica por aí. Ou então, calculou que a coisa caía bem para a fotografia e para render espaço nos jornais e lá conquistou as suas 10 linhas de glória...

A interpretação pode bem ser que, agora, a demagogia nos chega por segway...

É que no tempo de um outro Vereador do Ambiente a Câmara Municipal de Loures assinou um Protocolo com a Valorsul que estabelecia a oferta, por esta, de um autocarro movido a energia alternativa. O Protocolo foi aprovado por unanimidade em Reunião de Câmara e não foi alterado até hoje. Contudo, a actual gestão municipal, não quis saber nem de Protocolo, nem de energias alternativas para nada e aceitou um problemático autocarro alimentado ao fóssil gasóleo.

A menos que os segway's venham a servir para substituir o autocarro - que devia ser um exemplo e não é - e as crianças das escolas, passarão a deslocar-se para o Parque Urbano de Santa Iria de Azóia cada uma na sua "máquina" ambiental ou então, só pode concluir-se que esta foi apenas e só uma operação de demagogia barata.

A demagogia também anda de segway ?

10/07/07

Zitarela ou profissional da dissidência ?



Estava no gozo de uns retemperadores dias de férias, quando, na passada semana, me vejo confrontado com uma "grande entrevista" à senhora dona Zita Seabra. Comecei a perceber que a senhora não tinha feito nada de novo, nem de extraordinário, mas tinha direito à dita "grande entrevista" por causa de um passado longínquo... e inexplicável. Agora é que ela vai pôr tudo em pratos limpos!

Algo surpreendido, deixei-me ficar a ouvir. É evidente que surpreendido, porque se depois de ter deixado o PCP há muitos anos, se inscreveu no PSD, já foi vereadora por esse Partido na Câmara de Vila Franca de Xira, é agora deputada social-democrata e tem - diz-se - a actividade profissional de editora, vem agora editar um livro dedicado ao PCP ?!... Não haverá nenhum feito recente, uma causa que valha a pena, uma proposta ou projecto com futuro ou para o futuro? Só tem passado ?

Ainda pensei que podia ser manobra televisiva para chamar a atenção dos telespectadores e que a senhora se dedicaria a falar sobre, sei lá, um passado mais recente que fosse.

Mas não, assumiu mesmo o papel de dissidente profissional, ou seja, faça a senhora o que fizer no passado recente, no presente ou no futuro, será sempre consultada em matérias de dissidência. É uma especialista, uma profissional. E não uma dissidente qualquer, uma dissidente do PCP, o que confere um cunho especialíssimo à especialidade. Efectivamente, a comunicação social e os seus critérios são às vezes uma verdadeira delícia.

Bom, mas lá ouvi (não tive paciência para ouvir tudo e já digo porquê) umas quantas meias verdades, para sustentar a sua posição e o seu "profissionalismo", como a excelente tirada de que sempre se opôs à unificação da UEC com a UJC, mas sem explicar as verdadeiras razões porque se opôs. Alguém se lembra de que a senhora, após a unificação ficou sem o protagonismo que tinha na UEC ?!... Será uma explicação bem mais prosaica, mas talvez bem mais realista, não?!

Mas o que me implodiu a paciência foi o conto de fadas que ali levou com tanta candura e que se pode resumir na seguinte fórmula: "Era uma vez... estava tão entregue à causa, tão entregue à causa, que era uma verdadeira escrava. Não sabia que fora da cozinha escura onde a madrasta má e as irmãs péssimas a encerraram, também havia mundo, vida, passarinhos e... só um dia em que encarou com um princípe encantado e experimentou o sapatinho, foi libertada do jugo opressor da bafienta cozinha, para o mundo, a vida e a mais completa liberdade. Casou e foi muito feliz para o resto da vida...". (onde é que eu já ouvi/li isto?)

Arre porra, que não há pachorra para estas tretas. (foi aqui que passei para o canal do lado, como bem se percebe)

Mais, a senhora dona, de quem se diz que é editora, deveria ter o sentido ético e profissional de não nos vir vender como uma história nova, a velhíssima história da Cinderela, recauchetada de Zitarela. Como a maioria das cópias e plágios, é a mesma história em pior. Acha que somos todos parvos ou é preciso uma ajudinha do "povo" para evitar a falência de alguma editora ?

Justifica-se perguntar: estamos perante uma Zitarela da vida quotidiana, uma editora aflita ou uma profissional da dissidência que nos conta histórias como se fossemos bébés de embalar?